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Conquistar pelo amor ou pela guerra

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Conquistar pelo amor ou pela guerra

Uma reflexão sobre as relações amorosas

 

Há uma frase que apura o gosto e a inspiração pela conquista. Ela é de Saramago:

“Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar”.

Descobrir que o mundo não gira ao nosso redor não é apenas uma desilusão, mas o nascimento do não em nossos territórios. Um território sem limites não possui fim, mas também não possui começo. O não dentro de nossos corações, mais do que um obstáculo, é um princípio. Ou seja, ele é o início da percepção do outro. E torna-se fundamental perceber o outro para se sentir acompanhado.

Apaixonadas, as pessoas esquecem de si e de seus territórios. Porém, não se esquecem de buscar a satisfação no que está do outro lado de sua fronteira. Essa aparente entrega pode ser confundida com o final do egoísmo. Quem faz tudo pelo outro é porque ama demais. Engano. Na paixão, o território do outro é confundido com o seu. A paixão pode ser a versão de um amor egoísta, pois ter o outro significa borrar as divisas do território alheio. Essa é uma conquista de guerra. É uma conquista pela posse e através da cegueira. Ao final desse domínio, percebe-se uma profunda solidão. Não existe mais nenhum território além do seu. A paixão termina quando se descobre que o objeto da paixão só existia dentro da cabeça da própria pessoa. O choque com a realidade interrompe repentinamente a entrega.

A frase de Saramago representa o paradoxo entre o gosto e a posse. Na ausência de uma correspondência simples entre ter e gostar está o prazer em se corresponder. Corresponder é um verbo muito interessante, pois significa apresentar similitude. Resultado, portanto de uma comparação. Mas, é na voz reflexiva que ele recebe mais um sentido. Corresponder-se com alguém significa comunicar-se com reciprocidade. Os amantes se correspondem por mensagens de amor. As palavras buscam conquistar o território do amor através da reciprocidade e não da semelhança.

A paixão é descontrolada, pois é uma conquista estabelecida em território de guerra e não no de amor. A paixão busca descontroladamente o controle do que está do lado de fora do coração. É a falta de controle de si que busca controle em território estranho.

O amor interrompe a guerra. Controlar a si mesmo é a conquista realizada dentro do território do amor. O domínio de si mesmo, com amor, não é realizado através de um sacrifício a fim ser usado como moeda de troca que busca uma satisfação apenas adiada. O não, quando precisa de justificativas ou de trocas futuras, não é uma negativa, mas uma condição. O não precisa ser realmente um limite e não um obstáculo a ser transposto, para que haja renúncia ao amor infantil.

O domínio de si está na possibilidade reflexiva da pessoa diante do amor, diante da renúncia à correspondência. Renuncia-se à correspondência para corresponder-se reflexivamente com o amor. Descobre-se que o amor é livre e a conquista desta liberdade produz uma sensação de poder muito grande, pois a conquista dos territórios vai sendo feita compartilhando ideais.  Descobrir que o mundo se move e que não somos o centro possibilita a liberdade de nos movermos.

 

Dra. Simone Engbrecht
Psicóloga e Psicanalista – CRP 07/05555

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Matéria publicada na Revista Classic Life Edição nº 22 – 2011
Crédito/imagem: “FreeImages.com/Yosep Sugiarto.”

 

DRA. SIMONE ENGBRECHT

DRA. SIMONE ENGBRECHT

Psicóloga e Psicanalista - Trabalha na área clínica com adolescentes e adultos. Consultório nas cidades de Porto Alegre e São Leopoldo | RS.