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Amores eternos

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Amores eternos

Eternidade. Aumentar o tempo de vida é uma das ambições do ser humano. Ele tenta corrigir a ferida causada pela finitude do controle. Prolongar o tempo de vida do amor também é um desejo. Torná-lo eterno parece impossível.

Nos tempos em que a pesquisa genética avança tanto, ficamos motivados a refletir sobre o que herdamos e o que construímos como herança. Herdamos genes, bens, valores. A herança corresponde ao patrimônio transmitido por alguém. Bens significa a propriedade de alguém; domínio. Interessante escutarmos que o aquilo que está sob domínio de alguém pode tornar-se propriedade de outra pessoa.

A ligação entre a herança e morte é curiosa. O momento em que a herança muda de dono varia de acordo com o tipo de herança. Os bens materiais são transmitidos a partir da morte de alguém. A herança de genes se faz sem a morte, mas com a reprodução da vida. Uma contradição inquietante. Talvez por este motivo o homem busque imortalizar-se através do seu nome transmitido aos filhos e às obras.

Enquanto os bens estiverem sob o domínio de alguém, os bens sobrevivem ao homem e, por outro lado, quando os bens são propriedade de uma relação de contato, de filiação – a origem deles supera a morte. Uma obra, um filho e uma árvore imortalizam um homem. Uma conta bancária não. Quando ouvimos a frase: ‘Elvis não morreu’ fica clara a noção de que uma obra deixa quem a produziu imortalizado. Uma música que não é mais ouvida morre.

Os dois enigmas da humanidade: de onde viemos e para onde vamos, associa o tema das origens com o desejo da imortalidade. Quando uma herança tem a origem em alguém e o fim em outro, a herança encontra sentido de existência e imortaliza quem se envolve com ela. Um texto só vive quando possui sua existência entre o autor e o leitor.

Os cientistas procuram decifrar o código genético, o mapa das nossas heranças com a finalidade de prolongar a vida. O amor é um tesouro que todos os mortais buscam decifrar um mapa que possa encontrá-lo. Quando encontramos um caminho neste mapa também prolongamos a vida.

Conforme Goethe:

“Was du ererbt von deinen Vätern hast,
Erwirb es, um es zu besitzen.”
“Aquilo que herdaste de teus pais,
conquista-o para fazê-lo teu.”

Conquista é uma palavra bem utilizada pelos amantes que desejam possuir o alvo do seu amor. É importante refletirmos sobre a conquista, o amor e a imortalidade. Conquistar, ganhar, vencer, possuir, são palavras usadas em batalhas e lutas que buscam o domínio. Para que o amor seja eterno, ele deve tornar-se uma herança que imortaliza quem produziu este bem. O amor só é eternizado se for compartilhado. O desejo de domínio do amante pode matar o amor e sufocar o ser amado. Numa época onde tudo aparenta ser tão passageiro, eternizar relações parece impossível. A amizade talvez seja a manifestação do amor na forma menos dominadora e mais compartilhada. Ser amigo significa ser fiel ao prazer em compartilhar os tesouros em vida. Compartilhar a vida com quem amamos significa sermos amigos eternos.

A amizade é recheada por cumplicidade. Cúmplices de crime nenhum, mas companheiros da vida. Os amigos que partilham a vida não se questionam se são os mais amados, os mais queridos. Apenas são parceiros numa situação que cada dia nos convoca: o fato de sermos humanos. Percebemos que a vida é finita, que somos impotentes diante deste fato faz com que nos rebelemos contra este fato.

Ao compartilharmos com humildade a nossa impotência diante da morte, vencemos a falta de eternidade, pois construímos o bem mais precioso: a herança que nasce diante de um amor eterno: a amizade. Amigo do filho, da esposa, do primo, da avó, do namorado torna qualquer ligação eterna.

A riqueza de qualquer pessoa não está na aparência, nos bens materiais, nos genes, mas está na amizade que pode compartilhar eternamente.

 

 

Dra. Simone Engbrecht
Psicóloga e Psicanalista – CRP 07/05555

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Matéria publicada na Revista Classic Life na Edição nº 06 – 2002
Crédito imagem: “FreeImages.com/ Bedney Images.”

 

DRA. SIMONE ENGBRECHT

DRA. SIMONE ENGBRECHT

Psicóloga e Psicanalista - Trabalha na área clínica com adolescentes e adultos. Consultório nas cidades de Porto Alegre e São Leopoldo | RS.