Entendendo o Sistema Nervoso e suas doenças
Entendendo o Sistema Nervoso e suas doenças
“Não basta apenas reconhecer o problema e buscar ajuda. Tão ou mais importante do que isso é saber que há formas de prevenção.”
O que é a neurologia e a neurocirurgia?
A neurologia é a área da medicina que estuda o funcionamento e as doenças que afetam o sistema nervoso. A neurocirurgia é a especialidade irmã da neurologia e que se utiliza, além de medicamentos, de procedimentos cirúrgicos para obter diagnóstico e oferecer tratamento de certas doenças que afetam também o crânio, a coluna, o encéfalo (“cérebro”), a medula e os nervos. As doenças neurológicas são muito frequentes e muitas vezes trazem alguma incapacidade (sequela) com limitações temporárias ou permanentes. Quem já não ouviu falar de alguém com traumatismo craniano, derrame, lesão da coluna, Doença de Parkinson, Doença de Alzheimer e Esclerose Múltipla? Às vezes esses nomes podem parecer estranhos ou distantes, mas são todos referentes a doenças neurológicas realmente comuns. Para se ter uma idéia, o “derrame” (corretamente chamado Acidente Vascular Encefálico) é uma das principais causas de mortalidade no Brasil e é a principal causa de alguma incapacidade (sequela). O trauma (inclui-se o traumatismo de crânio) é a principal causa de morte ou sequelas em jovens. A ocorrência da Doença de Alzheimer, a causa mais comum de demência, tende a aumentar na população quanto maior idade as pessoas vão alcançando.
Existe uma crença de que as doenças neurológicas são graves e em todas há poucas chances de melhora, mas como em muitas áreas médicas, há também casos mais ou menos graves e, em geral, com maiores chances de resolução se reconhecidas e tratadas adequadamente.
Como as principais doenças neurológicas afetam o sistema nervoso? Como reconhecê-las?
Assim como alguém desconfia que uma dor repentina no peito após um esforço pode ser um problema no coração e procura um cardiologista, os sintomas neurológicos devem ser genericamente reconhecidos por todos para que se procure o atendimento adequado. O sistema nervoso pode ser afetado por uma grande variedade de doenças. Apesar de causas diferentes, a maioria das manifestações de uma doença neurológica (sinais e sintomas) é causada pela alteração da função normal do sistema nervoso, que pode ser atingido pela doença em uma parte localizada ou mesmo difusamente. Por exemplo, se a área do cérebro responsável pelo comando do movimento do corpo for atingida por um tumor ou hemorragia, o sinal será semelhante: perda da força e redução do movimento na metade contrária do corpo. Um estado de paralisia e diminuição de sensibilidade da região da “cintura para baixo” sugere um problema grave na medula espinhal, não importando se a causa for um traumatismo ou um tumor. Se a pressão dentro do crânio está aumentada e o cérebro está sendo comprimido por um coágulo, acúmulo do líquido produzido dentro do cérebro (hidrocefalia), inchaço (edema) ou tumor, o doente pode igualmente apresentar dor de cabeça, vômitos e sonolência.
Apesar da importância de as pessoas serem capazes de reconhecer os sinais e sintomas causados por doença no sistema nervoso, é papel do médico, especialmente do neurologista, confirmar as suspeitas disso e avaliar o real significado e gravidade.
Sintomas que indicam um problema neurológico
• Alterações do movimento e/ou da sensibilidade em uma parte ou na metade do corpo;
• Dor de cabeça, particularmente intensa e súbita;
• Desmaio;
• Dificuldade para falar e/ou entender;
• Alteração da visão, como visão dupla ou dificuldade para enxergar;
• Tontura, alteração do equilíbrio;
• Confusão;
• Náusea/vômito, dificuldade para engolir;
• Perda de coordenação motora.
Melhor prevenir do que remediar
Algumas doenças neurológicas têm sido tema de programas especiais de prevenção e reconhecimento por parte da população. Não basta apenas reconhecer o problema e buscar ajuda. Tão ou mais importante do que isso é saber que há formas de prevenção. A seguir, apresentamos alguns exemplos principais:
Acidente Vascular Encefálico (AVE)
O AVE é popularmente conhecido como “Derrame Cerebral”. Ele ocorre quando há interrupção súbita do suprimento de sangue com nutrientes e oxigênio para o encéfalo. Isso causa perda súbita da função neurológica da região acometida, podendo causar lesões temporárias ou permanentes. Há dois tipos de AVE: o isquêmico, que é o mais comum e é resultado da obstrução de um vaso sanguíneo que irriga o encéfalo (semelhante ao que ocorre no infarto do coração) e o hemorrágico, que ocorre devido à ruptura de um vaso sanguíneo, causando sangramento dentro ou ao redor do cérebro.
O AVE pode ocorrer a qualquer hora, subitamente; daí o nome “acidente”. Como todo acidente, podemos tentar preveni-lo evitando-se ou reconhecendo-se alguns dos chamados “fatores de risco”:
1. Controlar a hipertensão arterial;
2. Parar de fumar;
3. Reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas;
4. Melhores hábitos alimentares, com controle do colesterol e do peso;
5. Realizar atividades físicas regulares;
6. Controle do diabete.
Pacientes idosos, aqueles com AIT (Acidente Isquêmico Transitório ou “ameaça de derrame”), com doença cardíaca e AVE prévio devem realizar acompanhamento médico.
Trauma
O Trauma em geral deve ser entendido como um problema de saúde pública, uma doença como qualquer outra, com seus fatores de risco, epidemiologia (dados estatísticos), manifestações clínicas, tratamento, prevenção etc. O Traumatismo Cranioencefálico (impacto na cabeça) e o Traumatismo Raquimedular (lesão na medula e na coluna) são comumente causados por acidentes de trânsito, agressões, quedas etc. Devem-se evitar algumas situações que aumentam o risco desses acidentes acontecerem, como, por exemplo, mergulhar “de ponta”, andar de moto sem capacete, andar de carro sem cinto-de-segurança, sem apoio da cabeça e em alta velocidade, andar em altura (telhados, construções, etc) sem equipamentos de segurança, envolver-se em brigas.
Malformações do sistema nervoso
Os mais comuns defeitos congênitos do sistema nervoso são devido a defeitos do fechamento do chamado tubo neural, que é uma parte do corpo do feto em formação. Essas malformações incluem a anencefalia (a não formação do cérebro), a espinha bífida (malformação da coluna lombar), as mielomeningoceles (uma protusão da medula espinhal através da coluna e da pele) e a hidrocefalia (acúmulo excessivo de líquido em cavidades internas do cérebro chamadas ventrículos). Estudos científicos realizados mostram que o consumo de Ácido Fólico pela gestante protege de forma significativa contra as malformações do tubo neural. Todas as mulheres que planejam engravidar ou já são gestantes devem ingerir essa vitamina do complexo B, que normalmente é encontrada em vegetais de folhas verdes como o espinafre e no suco de laranja.
Dr. Leandro Infantini Dini
Neurocirurgia | CRM 21947
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN).
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Coluna (SBC).
Membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia (ABNc).
Fellowship no Toronto General Hospital, University of Toronto. Toronto, Canadá, junho de 2001;
Fellowship no Serviço de Neurocirurgia da University of Arkansas for Medical Sciences (UAMS) sob tutoria do Dr. Ossama Al-Mefty e Dr. M. G. Yasargil. Little Rock, Estados Unidos, junho a agosto de 2006;
Fellowship no Serviço de Neurocicurgia da Universidade de Tubingen, Alemanha, julho de 2009;
Mestrando em Neurociências pela Faculdade de Medicina da PUC/RS.
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Matéria publicada na Revista Classic Life Edição nº 16